Teach For Portugal

Falar sobre sexualidade na escola

Autor: Miguel Leão, Mentor da 2ª Geração Teach For Portugal

“Cheguei à turma apreensivo, era a primeira vez que falava de sexualidade com crianças, ainda que tenha tido formação para tal.
Comecei por partilhar que este era uma temática infinita e que teríamos de aceitar não haver respostas para tudo e alertei-os para a possibilidade de sairmos dali ainda com mais questões do que aquelas que tínhamos.

Falei dos sistemas reprodutores do Ser Humano. Relembrámos conceitos e, entre os risinhos típicos destas sessões, encontramos um espaço seguro para partilhar. Depois, falei de identidade e expressão de género e os primeiros rostos de surpresa juntaram-se a nós. Alguns adicionaram-se quando falamos de orientação sexual. Depois de algumas interjeições e questionamentos sobre a importância de falarmos de tudo isto uma vez que a maioria seria, à partida, heteronormativa, expliquei que não era necessário haver alguém que não se identificasse como heterossexual para saber e conhecer sobre outras orientações. ‘A informação é, na verdade, a melhor ferramenta contra a ignorância e preconceito.’ – partilhei.

Foi nessa altura que, dentro daquele espaço seguro, partilhei sobre mim. Afinal, não é todos os dias que um educador, fora da heteronormatividade, fala sobre si. Entenda-se, da sua experiência afetiva e social relacionada com a orientação sexual. Falei da minha infância, de quanto me sentia deslocado entre os meus pares, o quanto fingi para tentar ser mais parecido com os outros e o quanto passei quando o fingimento se esfumava na minha verdade. O silêncio instalou-se. Vulnerabilidade num adulto não é algo comum para eles. Deixei claro que a minha partilha não vinha definir nada nem ninguém. Expliquei-lhes que estão a formar as suas identidades e que as mesmas viriam com o tempo, que são seres livres, mas que devem ser conscientes. Que este conhecimento é parte importante da tolerância, que gostava de ver neles meus aliados e para todos aqueles que se viram discriminados.

A Rita levantou-se, em lágrimas. Disse-me que se tinha visto representada na conversa porque gostava de vestir roupas ‘mais masculinas’ e que tinha aprendido que estava tudo bem com ela. ‘Hoje aprendi que está tudo bem comigo’ – afirmou. Acrescentou que estava confortável consigo.

Juntos, acabamos por concluir que, tanto eu como a Rita, somos igualmente válidos, igualmente importantes e igualmente normais. A turma aplaudiu as partilhas e a sessão e, entre sorrisos e lágrimas, saímos todos para o recreio, seguros que o caminho do amor, da tolerância e da informação era o caminho que nos unia a todos.”