“O Miguel é um aluno que acompanho desde o início do ano letivo. Um menino doce e preocupado, que gosta de se mostrar inabalável. Contudo, por debaixo do que ele mostra ser, é um menino inseguro, que tenta camuflar as suas emoções com atitudes menos simpáticas. À parte disso, o Miguel adora matemática, sabe a tabuada de cor e salteado e tem um potencial enorme.
Desde Outubro que desenvolvo uma dinâmica nas aulas de matemática da turma do Miguel: o Jogo do 120. Consiste num quadro afixado no fundo da sala, onde estão todos os números entre 0 e 120, que são coloridos consoante o resultado de uma operação matemática que coloco no quadro nos primeiros 5 minutos da aula. O objetivo do jogo é colorir todo o quadro.
Inicialmente o Miguel mostrava-se desanimado e impaciente sempre entrava na sala, ‘Eu não consigo’ dizia ele, tentando copiar pelos colegas. Comecei a dar-lhe pistas para que ele se entusiasmasse com o jogo. Gradualmente mostrava-lhe que a minha ajuda não era necessária, pois ele conseguia resolver a operação matemática sozinho. Passadas duas semanas, foi o primeiro a entrar na sala, para ter mais tempo para resolver a operação matemática do dia. Olhou para mim e disse: ‘Hoje quero tentar sozinho, acho que sou capaz!’.
A partir desse dia, nunca mais lhe dei nenhuma pista ou ajuda. O Miguel, tal como eu esperava, conseguiu resolver grande parte das operações matemáticas sozinho. Sem ajudas e sem copiar. Sempre que acerta no resultado, chama-me e põe-me a par de todas as operações matemáticas que já acertou: ‘Já acertei 5 contas sozinho!’.
Eu olho para ele, com ternura, e digo-lhe: ‘Amanhã acertas 6!’.”
Autora: Francisca Cardeira
Mentora da 3º Geração Teach For Portugal, no Agrupamento de Escolas de Abação, Guimarães