Autora: Mariana Brazão
Numa aula de ciências sobre hábitos alimentares, os alunos partilharam as suas preferências para as refeições principais. Por entre tantas e boas contribuições dos alunos, o Alex (nome fictício) diz que tem saudades do arroz vermelho da sua terra, Angola.
Entre o barulho dos cadernos a abrir e as vozes dos alunos que contavam as suas histórias, a preferência do Alex tinha ficado “perdida no ar”. E, por também ele ter percebido isto, tirou uma folha branca da mochila e começou a desenhar.
Eu nunca tinha ouvido falar de arroz vermelho, não sabia onde podia comprar. No fim da aula, liguei o computador e escrevi “arroz vermelho”, e rapidamente apareceu uma lista de opções, com entregas rápidas. Porque não?
Recebi o arroz, procurei as receitas e cozinhei: arroz vermelho com feijão, legumes e amêndoa. Estava delicioso!
Na segunda-feira, dirigi-me à sua mesa, baixei-me e disse-lhe: ”Sabes o que provei esta semana?”, e ele, muito desconfiado lá me perguntou:” O quê?”. Sem hesitar disse-lhe: “arroz vermelho!”
Os olhos do Alex, saíram dos seus desenhos e foram direitinhos aos meus e perguntou incrédulo: “comprou?”, “onde encontrou?”, “arroz vermelho, mesmo?”, “gostou?”, “como sabia?”.
E neste súbito, aceitou a minha ajuda para os desafios de matemática e de ciências que rapidamente começaram a ter mais interesse. Ainda hoje, sinto que a nossa relação de confiança nasceu ali, no nosso ponto comum: o arroz vermelho.