Autor: Luís Vasconcelos
“Professor, para quê? Eu não quero estudar!”, esta frase foi uma das primeiras conversas que tive com um aluno que ia fazer 18 anos.
A escola tinha abandonado o aluno e este preparava-se para abandonar a escola. Na sua perspetiva, o que ali fazia era uma perda de tempo. O ordenado que o aluno ganhava a trabalhar num bar de uma associação desportiva compunha o orçamento familiar.
A escola era um entrave no seu objetivo: garantir que a sua família não sofresse de nenhuma necessidade. Afinal o aluno já tinha estado em algumas escolas e foi rejeitado pelas mesmas. Esta era o fim da linha.
O tempo foi passando e o aluno cada vez mais se envolvia nas atividades da escola, ensinava os mais pequenos, apoiava na organização das festas. Aos poucos, a conversa do aluno mudou “Stor tenho mesmo de mostrar a estes “putos” que têm de tirar boas notas para serem alguém”.
Ao servir como modelo, ele foi-se modelando. O que ele sabia era de tal valor que poderia ser transmitido aos alunos mais novos.
O objetivo foi subindo: primeiro, chegar ao fim do ano e passar. Depois, não tirar nenhuma negativa.
Há poucos dias atrás recebi a chamada que me encheu de orgulho:
– “Stor entrei na escola agrícola, vai ser mesmo fixe!”