Teach For Portugal

Quando, em janeiro, voltámos a ficar fechados em casa e o ensino passou a ser online, eram poucas as aulas a que o Miguel (nome fictício) assistia. Por isso, no início de março foi convocado para vir para à escola acompanhar as aulas do Ensino à Distância (E@D), e foi nessa altura que o comecei a acompanhar de perto.

No primeiro dia, o Miguel perguntou-me se também estavam na escola mais colegas da sua turma; disse-lhe que não, que o resto da turma estava em casa, mas que estava cá eu para assistir com ele às aulas e para o ajudar, além de alunos de outras turmas; nessa altura, li-lhe no olhar o desalento por se sentir só no meio de desconhecidos. O desafio estava lançado: motivar o Miguel para o E@D e ajudá-lo a integrar-se com os colegas que também estavam na escola.

Nos dias seguintes, o desânimo do Miguel parecia crescer com cada aula. O seu comportamento desafiante das aulas presenciais continuava na versão à distância, e era cada vez mais difícil resgatar-lhe a atenção e o entusiasmo.

Aproximava-se o teste de Português, que não era a disciplina em que ele tinha mais dificuldades, bem pelo contrário… Aproveitando o interesse do Miguel, e pensando que uma boa nota lhe podia mostrar que a escola também dá alegrias, decidi direcionar a sua atenção para esse teste.

Assim, uns dias antes, estive ao lado do Miguel a esclarecer dúvidas e a acompanhá-lo na aula em que a professora, através da câmara web, lhe pedia para ler um excerto de um livro. Na véspera do teste, levou para casa alguns apontamentos para estudar e, no “dia D”, embora um pouco nervoso, lá fez o teste.

Minutos depois, chegou a grande surpresa: “Muitos Parabéns, Miguel, tiveste 78%! Boa!”, exclamou a professora do lado de lá do ecrã. O Miguel não coube em si de felicidade; “Oh professora, eu não acredito, até estou com vontade de chorar”, desabafou enquanto olhava para o ecrã, incrédulo.

O esforço do Miguel não resultou apenas na boa nota a Português e nos parabéns da professora; também passou de “zero trabalhos” para “muitos trabalhos colocados” no Classroom; combinou com o pai ficar em casa uma hora por dia a fazer os trabalhos em atraso; e aceitou o desafio para realizar uma abertura de aula com a professora.

E assim é. Às vezes uma boa nota basta para dar uma lufada de esperança a alunos que deixaram de acreditar nas suas capacidades. O Miguel estava convencido de que era “burro” e que não conseguia mais, até ver ser capaz de tirar uma boa nota numa disciplina que gosta, e que nem precisa de estudar muito.

Vamos continuar a acompanhar o Miguel no regresso ao ensino presencial, com a convicção que não vai perder a vontade de ser mais e sempre mais!

 

Autora: Ana Isabel Mendes – Mentora no 1.º ano do Programa de Desenvolvimento de Liderança