Crescer para ser mulher é crescer com esta imagem constante e irreal do que é ser bonita, do que é ter um corpo bonito, de como nos deveríamos parecer, vestir, cuidar. São imagens que vivem em todos os lugares, e encontramos críticas e julgamentos em muitos espaços que deveriam ser seguros para nós: um deles a escola.
Como mentora do Projeto GAP – Gulbenkian Aprendizagem voltei a recordar como o peso da imagem interfere na relação de muitos jovens consigo mesmos, com o outro, com a escola e até com o próprio ato de aprender.
Decidi trazer este tema a diálogo com algumas das alunas, sugerindo a realização de uma exposição, para alargar a conversa e alertar para o problema e as suas consequências.
A vontade de falar era tanta, que rapidamente se formou um grupo externo ao das minhas sessões, que reuniu, discutiu e em conjunto, de forma praticamente autónoma, construiu esta exposição que orgulhosamente partilho – “Perfeitamente Imperfeitas”. Marcaram reuniões, reuniram material, discutiram sobre o que fazer.
Da sua realização não se retiram só estes cartazes e relatos: houve a construção de um grupo, de um espaço seguro de partilhas, um encontrar de histórias e possivelmente muitos novos sorrisos ao olhar o espelho.
Chegou o dia da montagem da exposição “Perfeitamente imperfeitas” e decidi vir partilhar. É uma exposição que procura ensinar a gostar do teu corpo, criticando todos estes padrões de beleza com que as mulheres crescem. A ideia nasce com a observação de que muitas alunas da escola vivem desconfortáveis (palavra leve) com o seu corpo e consigo próprias, o que prejudica a relação com o outro, com a escola, com as aprendizagens. Cheguei a encontrar alunas na casa de banho, a chorar, em pânico, e ao falar com a psicóloga da escola percebi que o horror do seu corpo era o grande centro do seu mal-estar.
Elas construíram o que partilho aqui, que acho incrível! Pode não mudar todas as cabeças, mas trouxe o diálogo, permitiu encontrar pessoas que vivem experiências semelhantes e dar um espaço seguro a muitas destas raparigas.
Mentora GAP: Íris