Nesta semana celebram-se o Dia Mundial do Livro, a 23 de abril, e o Dia da Liberdade, a 25.
A conjugação destas duas datas lembra-me das manhãs de sábado em que eu era uma menina que ia a pé à biblioteca municipal. Deixem-me contar como era: à chegada, devolvia em silêncio os livros à bibliotecária sorridente; depois entrava na sala repleta de livros e escolhia três; entretanto, ia deixando o instinto decidir qual ia ler primeiro e qual ficaria para último. Saía depois de registar os empréstimos, sem ter de pagar nem explicar nada, e caminhava para casa com os braços e coração cheios. A sensação de liberdade dessas manhãs, que eram também um recomeço de semanas de descoberta, era extraordinária!
Liberdade de ser uma menina despreocupada a andar pela rua e pela biblioteca, amizade no sorriso simpático trocado com a bibliotecária, possibilidade pelo acesso direto e gratuito a uma grande seleção de livros. Liberdade ao escolher os livros que levava, depois ao decidir se os lia ou não, e prazer ou riso ou choro ao lê-los, semana fora.
Hoje encaro a escola, a sala de aula, como esta biblioteca da minha infância. Um espaço seguro, de pertença, de oportunidades, de escolha, tanto para professores como para alunos; a nossa liberdade está ligada à liberdade do outro, somos livres porque o outro também o é.
Como a leitura, a educação pode e deve ser um espaço de liberdade em que todos participam numa relação de confiança e todos têm igual valor. Um espaço aberto e estimulante onde se aprende, celebra, discute, questiona e promove a escuta, a consciência, o sentido crítico e a cidadania ativa. Um espaço de partilha e de criação conjunta para o bem de todos.
Para que a leitura continue a ser um ato de liberdade, encontro inspiração nos dez “direitos inalienáveis do leitor”, do pedagogo francês Daniel Pennac. Vejamos, por exemplo, o primeiro: “o leitor tem o direito de não ler”. Ou o quinto: “o leitor tem o direito de ler o que quiser”. Ou ainda, o décimo: “o leitor tem o direito de não falar sobre o que leu”. São contra-intuitivos e até provocatórios, mas levam ao limite a liberdade do leitor, e foi ela, essa prezada liberdade que me trouxe até aqui.
Feliz dia Mundial do Livro! Feliz dia nacional da Liberdade!
Gratidão a todos os que contribuíram e contribuem para mais Liberdade no mundo.
