“Durante o 2º ano do Programa da Teach For Portugal nas escolas, os Mentores implementam um projeto comunitário com o objetivo de envolver a comunidade educativa construindo uma solução para uma necessidade identificada. No Agrupamento de Escolas de Santa Bárbara, numa das primeiras sessões, começámos com o tema “Eu”. Definimos o super poder de cada um com as perguntas “Em que sou bom?”, “O que gosto muito de fazer?”, “O que acho que o mundo precisa?”. O objetivo era que os alunos reconhecessem os seus talentos, interesses, desenvolvessem a consciência sobre si mesmos e depois sobre o seu potencial papel no mundo.
Uma das alunas, a Wellem (nome fictício), não respondeu nada em nenhuma das questões. Tentei ajudar. Ela disse-me que não sabia nada e que não era boa em nada. Fiquei inquieta, preocupada e ciente de que tínhamos aqui algo que precisava ser explorado e valorizado.
No final da sessão, cada um dos alunos tinha o desafio de ir à frente da turma, olhar-se ao espelho e dizer em voz alta “Eu sou…” e uma característica positiva. Alguns alunos depois, ainda no lugar, a Wellem começou a chorar. A sua insegurança não lhe permitia ver os seus talentos, as suas forças, ter confiança em si.
Toda a turma começou a dizer coisas em que ela era boa para a motivar. Tínhamos de lhe mostrar que víamos as suas qualidades, os seus talentos, e que acreditamos no potencial dela. Fiquei a falar com ela e a acalmá-la.
Durante os dias seguintes, comecei a perceber que ela gostava de desenhar e passei a elogiar os desenhos, a demonstrar interesse fazendo-lhe questões, e a pedir que me mostrasse os novos.
No início da semana seguinte, passou por mim no corredor da escola e disse-me ao ouvido “sou boa a desenhar”. Ela viu a minha felicidade e disse-lhe que tínhamos de celebrar. Ali mesmo, fizemos uma “dança da vitória”, à qual se juntaram os colegas da turma dela para celebrarem em conjunto.
Na sessão seguinte, havia alunos que ainda não tinham tido oportunidade de se olhar ao espelho e dizer no que eram bons e por isso continuámos a atividade. A certa altura, chamei a Wellem e desafiei-a. Ela disse que não se queria ver ao espelho. Estava apreensiva. Mas depois de algum incentivo e motivação por parte da turma, a Wellem sentiu-se confiante para, de olhos fechados, mas bem alto expressar “Eu sou boa a desenhar!”.
Toda a turma aplaudiu com força.
Nesse dia, a Wellem percebeu que era boa a desenhar. Percebeu que todos viam isso nela, e mais importante, ganhou a confiança suficiente para afirmar o seu talento e saborear o merecido valor.”
Autor: Bárbara Brochado
Mentora da 3ª Geração Teach For Portugal no Agrupamento de Escolas de Santa Bárbara