O António (nome fictício) é filho único. Não domina a língua portuguesa, nem quer, porque veio contrariado para o nosso país. O António gosta de cantar e dançar. O António não percebe porque é que tem de obedecer a certas ordens e aprender certas coisas. E, como ninguém lhe explica, ele continua a não perceber e a expressar essa incompreensão, à sua maneira. O António tinha atitudes frias, distantes, desconfiadas.
Aula após aula, o meu foco com o António era sempre o mesmo: dar relevo e importância a todas as coisas que fazia bem, às intervenções positivas e pertinentes. Aula após aula, o seu comportamento e a sua motivação não se alteravam.
No primeiro dia do 2.º período, estava um dia frio e eu estava entusiasmada por rever os alunos. Estou a descer as escadas do hall de entrada e, quando levanto o olhar, vejo o António. Ele olha para mim e segue na minha direção.
Quando chega perto, abraça-me. O abraço dura dois fugazes segundos. Depois, segue o seu caminho sem dizer nada. Não foi preciso.
Autora: Margarida Ramirez – Mentora no 2.º ano do Programa de Desenvolvimento de Liderança