“Sou um vadio metódico que desobedece com generosidade.” descreve-se o Tiago Lobo, Mentor Teach For Portugal da 1ª geração. “Considero-me um pensador híbrido que não sabe se não misturar, mestiçar, e um crítico de mim mesmo e dos contextos onde deambulo: nunca aceito a verdade tal e qual como me é apresentada.” E para quem o conhece, a profundidade com que reflecte sobre toda a informação é capaz de ser a sua característica mais evidente. Rótulos não combinam com o Tiago.
“Vi na Teach For Portugal, reunidas todas as vontades que se animavam dentro de mim. Era a oportunidade de poder fazer uma diferença real na trajetória de muitas crianças e mudar Portugal. Era a oportunidade de poder exercer a minha profissão como criminólogo com espaço para a inovação e a flexibilidade. Era a oportunidade de uma exploração etnográfica de múltiplos contextos e vidas em desvantagem. Era a oportunidade de aprender sobre outras áreas e domínios do saber e da prática, numa sede imensa de saber mais. Era a oportunidade de saber mais sobre mim, de me reinventar, de explorar novas áreas e caminhos profissionais. Era a oportunidade de me lançar num trampolim que me apoiasse no projetar e no (re)pensar da minha carreira a longo-prazo.”
Durante os 2 anos do Programa de Desenvolvimento de Liderança, o Tiago está alocado ao Agrupamento de Escolas do Cerco no Porto, onde colabora nas disciplinas de Educação Física, Português, Matemática e Realidade, Educação Visual, Educação Tecnológica e ainda nos Recreios. Como projeto comunitário desenvolveu “Um Cerco Educativo-Alternativo” – Trabalho educativo de rua, com foco na promoção da frequência escolar e diálogo intercultural.
“Gostaria de destacar dois aspetos desta tão rica experiência. Em primeiro lugar, dizer que aprendi o racismo; digo aprendi porque até aqui ele me era invisível e não estava consciente dele – pelo menos, não como estou hoje. Aprendi o quão duras são as disparidades raciais sistémicas e o que eles significam para as pessoas que sofrem com elas; porque foi com elas que aprendi o racismo e foi com elas que aprendi a desaprendê-lo também. Em segundo lugar, aprendi também pela primeira vez, o valor do coletivo e a acreditar verdadeiramente no trabalho em equipa, na mobilização de grupos e na sabedoria coletiva, desistindo do sistema ‘alguém está certo’ e ‘alguém está errado’.
Para o futuro levo conhecimento da realidade do sistema educativo Português da perspectiva ‘de dentro’ e com isso a intenção de transformar sistemas, mais do que atuar sobre indivíduos e microssistemas, e de ter um papel na construção de equidade e justiça sociais para as comunidades ciganas portuguesas e internacionais (Romani).
Do ponto de vista científico, levo muitas hipóteses para testar sobre os problemas de comportamento e o absentismo em contexto escolar, bem como a ligação entre a Criminologia e a Educação – qual o papel da Criminologia na Educação e da Educação na Criminologia?”
“Tenho vontade de continuar ligado à comunidade que sirvo, há um sentido de dever. Isto é apenas o início” conclui.