Teach For Portugal

desigualdades educativas

Autor: Pedro Almeida, co-fundador e CEO da Teach For Portugal

Se a pandemia agrava as desigualdades sociais existentes, o fecho das escolas tem implicações educativas tremendas especialmente nos alunos mais vulneráveis. Além de apresentarem maiores dificuldades antes deste encerramento, são os que mais regridem nas aprendizagens uma vez que têm menos apoio e condições em casa. Para estes alunos, a presença física dos colegas, dos professores e de todos os que dedicam as suas vidas profissionais ao seu sucesso é fundamental para que possam ter oportunidades reais de mobilidade social.

É pouco provável que dentro de 15 dias as escolas reabram totalmente, ou seja, deverá haver ensino à distância para muitos alunos, senão mesmo para todos. Ora o ensino à distância é um fraco substituto do ensino presencial, tanto mais fraco quanto maiores as dificuldades e necessidades do aluno. Estes alunos tendem a encontrar-se nos contextos socioeconómicos mais baixos pela falta de meios (computador e /ou internet) e pela falta de acompanhamento (pais com menor escolaridade).

A Teach For Portugal, organização não governamental parte da rede global Teach For All, trabalha nas escolas em que a concentração de alunos com Apoio Social Escolar é maior e, como tal, onde estas dificuldades são sentidas com elevadíssima intensidade. E é aqui que a presença física ganha uma dimensão essencial

Para este ensino à distância, a Teach For Portugal tem a experiência acumulada do encerramento das escolas no ano passado. E acima de tudo os exemplos, as práticas, as ferramentas e dinâmicas da rede internacional Teach For All, criadas em contextos com todos os níveis de acesso tecnológico.

Em 2020 os mentores da Teach For Portugal mantiveram um contacto regular com quase todos os alunos, fizeram chegar alimentos a dezenas de famílias com campanhas próprias de recolha e não só angariaram 120 computadores para os alunos, como ajudaram na sua instalação em casa e na formação das famílias para a sua utilização.

Durante a primeira vaga da pandemia, os mentores da Teach For Portugal fizeram visitas surpresa às casas dos alunos, criaram períodos de leitura online semanais, produziram séries no YouTube, foram à porta das suas casas para criar relações com os alunos e suas famílias, criaram espaços de conversas online e “recreios” virtuais com jogos e atividades didáticas, e formaram alunos e professores para maximizar a eficiência do ensino à distância.

O ensino à distância tem uma recetividade diferente conforme os alunos tenham acesso a bons meios tecnólogicos e aqueles com acesso apenas ao telemóvel do pai ou mãe, muitas vezes só ao final do dia. Mas, se estiver disponível, é possível manter um contacto, muito regular para reforçar a motivação e a disciplina, e, acima de tudo, para que estes alunos saibam que a escola está aqui para eles, sempre. E dando espaço para perceber onde é preciso dar apoio emocional e onde o bem-estar precisa de maior cuidado.

E agora, chegados a uma nova vaga e a um novo encerramento das escolas, desta vez sem recurso ao ensino online pelo menos por agora, há que garantir que nenhuma criança fica para trás. Uma solução pode passar por parcerias entre entidades públicas e privadas como é o exemplo do GAP – Gulbenkian Aprendizagem. Apoiado pelo Ministério da Educação, o GAP é implementado pela Teach For Portugal, e tem a colaboração da Associação Portuguesa de Professores de Inglês, da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) e das Universidades do Porto e do Minho. O GAP surge como uma resposta de emergência para apoiar os alunos com maior dificuldade a recuperar aprendizagens através de Mentorias Académicas nas disciplinas de Português, Inglês e/ou Matemática, assim como do desenvolvimento de competências transversais como sejam a autorregulação e a motivação para o estudo. Esta e outras respostas são agora ainda mais críticas para mitigar os efeitos negativos de mais um fecho das escolas.

Se a presença passou à distância, então o contacto frequente não só não deve deixar de existir, como se tornou essencial para certas comunidades de alunos. A proximidade não pode encerrar-se com o fechar dos portões das escolas.

Estas são a porta de um futuro diferente para muitas crianças.