“Reboliço e animação transpiravam pelos corredores do Agrupamento de Escolas de Lousada Este. Chegava a tão almejada semana de campanha para as listas de associação de estudantes e, por entre festas e euforia, lá se ia a autorregulação na sala com a maioria.
Num desses dias, algumas das listas decidiram lançar balões e rebuçados, conquistando o coração de vários alunos, apesar dos doces num ápice desaparecerem. Alguns dos balões foram deixados à solta, e eis que o Rúben decide trazer um amarelo para dentro da sala. O balão quase que parecia uma pipoca em lume ardente, saltitando de mesa a mesa e adocicando cada vez mais a balbúrdia dentro da sala de aula. Nesse momento só restava uma solução e essa era pegar no balão. Os alunos, expectantes, temiam o pior. Pressenti que se rebentasse ou retirasse o balão naquele preciso momento fosse gerar maior alvoroço e, dessa forma, peguei delicadamente no balão e sem lhes dirigir a palavra passei a personalizar o balão desenhando com uma cara sorridente:
– “E então que nome lhe querem dar? “
– “Ui, está a perguntar a sério? “– dizia o Rúben, rindo-se às gargalhadas.
– “Qualquer pergunta é válida, por isso sim! Este é um novo aluno que chegou agora à turma e acabou de me dizer que vocês estavam a atirá-lo de mesa em mesa e a gozar com ele porque não se lembrava do nome. Assim sendo, querem ajudá-lo e dar-lhe um nome?
– Quim, Maria, Leonardo Ninja, Bernaaaaaardo!… – sugeriam os alunos com ênfase maioritária em Bernardo;
– Pois bem, apresento-vos o Bernardo!
De seguida, coloquei o Bernardo numa das mesas livres na sala junto ao Rúben, com direito a manual e algum material que os alunos passaram a lhe emprestar. Situei ao Bernardo a página do manual planeada para o início da aula e, prontamente, este estava preparado para a aula. É um bocado tímido, mas de vez em quando o Bernardo lá participa na aula. Quanto ao comportamento e aproveitamento é um verdadeiro modelo a seguir: nunca se esquece dos trabalhos de casa, autorregula-se na sala, cumpre sempre as instruções indicadas e está sempre pronto a ajudar.
Aos poucos e a olhos vistos , os alunos começaram a seguir o seu exemplo.
– Olha lá, em que página é que está o Bernardo?
– Shhh, o Bernardo pediu silêncio agora para se concentrar no exercício…
– O Bernardo falou há pouco e vocês ouviram-no atentamente, por isso, deverão respeitar a vossa colega;
– Olhem lá, o Bernardo apontou o TPC no caderno e não se esqueceu…
O Bernardo Balão ainda resistiu por algumas semanas, mas o andar de casa em casa e frequentemente ir agarrado a um fio para os intervalos com os alunos, fez com que este perdesse o ar… literalmente. No entanto, algo é certo, pode já não estar entre nós, mas a memória deste balão exemplar continua vinculada nos alunos. Talvez daqui a uns tempos, a recordação não baste para que se mantenha a melhoria de autorregulação na turma, mas quem sabe, até lá, outros novos alunos poderão surgir e reaver assim o espirito do Bernardo já vigente em cada um deles.”
Autora: Raquel Monteiro
Mentora da 3ª geração Teach For Portugal no Agrupamento de Escolas de Lousada Este