Cresci com a minha mãe a ensinar-me sobre os Direitos das Crianças. Ela, uma grande defensora do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8069/1990), aproveitava todas as oportunidades para trazer consciência para este tema.
Lembro-me de um episódio, ainda muito pequena, em que estávamos parados num semáforo e um menino andava entre os carros a pedir dinheiro em troca de lavar o para-brisas. O meu irmão, muito indignado, diz: “Este menino está aqui a pedir dinheiro, mas vejam as sapatilhas de marca que ele tem nos pés.” A minha mãe virou-se para trás e perguntou: “Achas então que ele não tem direito de ter umas sapatilhas desta marca? Muitas vezes, meu filho, a forma que algumas crianças e jovens encontram para serem aceites na nossa sociedade é através do como se vestem, para se sentirem iguais.” Fui e sou muito inspirada pelas palavras da minha mãe, mas também reconheço o meu privilégio em crescer num ambiente como este. Privilégio que, na verdade, é direito de todos(as).
Hoje comemora-se o Dia Mundial da Criança em Portugal, data celebrada desde 1950, por iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) com o intuito de chamar a atenção para os direitos das crianças, nomeadamente a necessidade que estas têm de viver num ambiente de paz e harmonia que contribua para o seu pleno desenvolvimento.
Parecendo óbvio, então me pergunto porque passados 70 anos, ainda há no mundo crianças sem os seus direitos garantidos? Talvez por estarmos constantemente a referirmo-nos às crianças como o futuro. As crianças têm todos os direitos humanos, não porque são “o futuro”, mas porque são seres humanos, hoje! No passado, a criança já foi objeto de direitos, hoje ela é sujeito de direitos e cidadã do presente. Já dizia a educadora e poetisa chilena, Prêmio Nobel da Literatura, Gabriela Mistral no seu poema “Seu nome é hoje”.
É neste sentido que a Teach For Portugal trabalha, com o objetivo de que todas as crianças tenham acesso às mesmas oportunidades. Acreditamos que, através da educação, todas as crianças são capazes de aprender, de sonhar, de realizar, de atingir o máximo que conseguirem, de quebrar “teimosias” do contexto onde nasceram e viverem mais felizes.
São nas ações do presente, sem deixar nenhuma criança para trás, que criamos a oportunidade de poderem ser o que quiserem hoje e no futuro.
O meu sonho é tornar todos os dias no Dia Mundial das Crianças. Quando não precisarmos mais de uma data para chamar a atenção para as desigualdades, todas as crianças terão os seus direitos humanos garantidos.
Deixo aqui 3 pontos da Declaração Universal dos Direitos das Crianças comentados com o que acreditamos e transmitimos na Teach For Portugal:
- Todas as crianças têm o direito à vida e à liberdade: Liberdade para pensarem diferente, serem elas mesmas, fazerem as próprias escolhas e serem plenamente felizes!
- Todas as crianças devem ser protegidas da violência doméstica, do tráfico humano e do trabalho infantil: Ensinar/educar as crianças para estes temas na escola, debatendo abertamente do que é suposto ou não acontecer, consciencializando-as sobre os próprios direitos.
- Todas as crianças são iguais e têm os mesmos direitos, não importando a sua cor, raça, sexo, religião, origem social ou nacionalidade: Na Teach For Portugal investimos na Formação da Pedagogia Culturalmente Responsável, identificamos o que levamos nas nossas “mochilas” e quais são as lentes que utilizamos para ver o mundo.
A infância é um momento especial de vulnerabilidade, mas também de oportunidade. Abandonar as aspirações das nossas crianças seria desperdiçar o potencial da humanidade.
Sinto-me honrada em fazer parte de uma organização que acredita e luta por este sonho. Nós sabemos que a mudança começa por nós.
Autora: Heloísa Toledo – Tutora Pedagógica da Teach For Portugal
Foto: Heloísa Toledo em criança 🙂