Teach For Portugal

Cátia Barbosa

 

Autora: Cátia Barbosa
Mentora da 3ª Geração Teach For Portugal,
no Agrupamento de Escolas de Freamunde, Paços de Ferreira

 

“Na aula de formação para a cidadania, o Diretor de Turma alertava a turma para os baixos níveis de motivação. Tal como ele, vários professores se estavam a sentir inquietos ao verem alunos a desistir face a exercícios ou tarefas.

Vi nesta situação uma oportunidade e disse:
‘Afastem os vossos cadernos, coloquem-se confortáveis, vamos fazer um exercício de meditação.’
Depois de instalado o silêncio, começámos…

‘Pensem em algo concreto que desistiram de fazer.’O objetivo

‘Visualizem esse evento… o preciso momento em que isso aconteceu, em que desistiram! O que fizeram exatamente…como reagiram?’ – Comportamento/ reação

‘Agora que têm esse evento focado, reflitam em silêncio: sobre como se sentiram, como se sentem por ter deixado de tentar, por ter desistido.’Sentimentos e emoções

‘Agora vamos mais longe… mantendo esse evento em mente, pensem: Qual é a pior coisa que pode acontecer? Se tentar e não correr 100% bem, qual o pior que pode acontecer?’ – Reflexão sobre os receios/medos

“Isto pode mesmo acontecer ou não é assim tão provável? Será que metade das nossas preocupações, medos e anseios não são elefantes na sala criados por nós?”O motivo pelo qual desistiram / anseios e medos.

‘Pensem agora na melhor coisa, plausível, que pode acontecer quando superarem esse obstáculo…sim, porque vocês podem ainda não ter conseguido, mas vão conseguir, eu tenho a certeza que sim!’

‘Quanta energia estão efetivamente a direcionar para a superação dos vossos medos?’ – Mudança de crença, mudança de foco dos problemas para as soluções.

‘Se tentarem, têm mais a ganhar ou a perder?’ – Balanço de custo / benefício na resolução do problema

Em seguida, eu e o Diretor de Turma perguntámos se alguém gostaria de partilhar a sua reflexão e convidámos os alunos a preencherem em casa, numa folha a seguinte informação:

  • Do que desisti?
  • Por que desisti?
  • Como vou superar este obstáculo e torná-lo numa conquista?
  • Quando / onde vou aplicar estas soluções?
  • Evidências da minha pequena (grande) conquista

Durante todo o exercício o Diretor de Turma esteve em silêncio. No final da aula disse-me:
Isso é tão simples e nunca me lembrei de o fazer… Realmente se não nos focarmos em algo concreto e objetivo e também se não colocarmos prazo para o superar, acabamos por não fazer nada! Foi uma ótima ideia, isto vai deixá-los a pensar. Até eu saí desta aula a aprender algo novo!’

Nessa mesma noite, a Lara (nome fictício), enviou-me o seguinte:

Perguntei-lhe se no dia a seguir me poderia contar sobre a história que leu e assim foi!

A aluna veio à minha procura na sala de professores e disse-me:
‘Vim aqui para lhe contar sobre o livro que li mas agora estou com um problema. Não sei qual das duas histórias lhe contar. Porque ontem eu disse-lhe que iria ler aquele livro que lhe enviei foto mas depois até nem me custou e quis ler mais. Então fui à procura de outro lá em casa!’

Sorri e disse-lhe:
Lara… cada passo foi teu… fizeste o esforço por superar algo, quiseste fazê-lo porque identificaste que isso te estava a prejudicar! Podias ter escolhido outros, mas escolheste esse: ler. Eu acho que foi uma brilhante escolha! Vamos continuar com essa dedicação e continuas a contar-me mais histórias?’

 

E assim, os meus dias ficam mais ricos, com as aventuras que a Lara tem para me contar! E eu orgulhosa, sorrio, ouço-a com toda a atenção, vendo ali a florescer o gosto pela leitura.”