“Na primeira aula de português do 5º ano eu e a professora-mentora decidimos desafiar os alunos a construírem um prisma de papel com o seu nome numa face o seu nome e a palavra ‘Ajuda’ noutra para que sempre que precisassem de ajuda virassem essa face do prisma, para facilitar a comunicação. Demos-lhes liberdade para que cada aluno o construísse à sua artística e expressiva maneira. Minutos depois, vi que o Ricardo, um aluno diagnosticado com autismo, estava a chorar cabisbaixo na sua mesa.
Fui ao lado dele. ‘O que se passa?’ perguntei. Ele explicou-me ‘Tenho muitas dificuldades, escrevi o meu nome muito pequeno.’ ‘Mas não queres continuar?’ – perguntei-lhe. Voltando a encostar a cara à sua mesa, ele disse ‘Não quero continuar, não consigo fazer isto.’ Convicta de que não queria que ele se sentisse incapaz de fazer o exercício, tive então uma ideia. Um truque que nunca falha: perguntei-lhe se ele gostava de magia. Abanou a cabeça que sim. ‘Fecha os olhos. Só abres quando estalar os dedos.’ disse-lhe de forma enigmática. Em silêncio, dobrei novamente o papel para que ele pudesse desenhar na face oposta. Estalei os dedos e os olhos abriram-se, curiosos. ‘É normal que às vezes nos enganemos, mas há sempre uma nova oportunidade para recomeçar. Vamos fazer de novo o prisma, e vais ver que vais conseguir. Estou aqui para te ajudar’.
O colega da frente, ao ver o prisma do Ricardo concluído e preenchido com o nome a letras garrafais e coloridas, exclamou: ‘Uau!!! O teu prisma está mesmo muito fixe!’. O Ricardo, imediatamente esboçou o seu mais genuíno sorriso. E eu – mais ainda! – a pensar no potencial dos recomeços e em como todos somos capazes de tudo, ciente de quanta magia conseguimos encontrar tendo altas expectativas na visão para os alunos.”
Autora: Débora Silva
Mentora da 3ª Geração no 1º ano do Programa de Desenvolvimento de Liderança, no Agrupamento de Escolas do Vale de S. Torcato