Autora: Heloísa Toledo | Tutora Pedagógica Teach For Portugal
José Pacheco, fundador da Escola da Ponte, diz que a aprendizagem não depende de edifício, salas de aulas, quadro ou marcador. A escola é feita de pessoas e é nessas pessoas que o sistema educativo deve focar. O AE Diogo Macedo mostra que esse caminho é possível.
Um dos livros que mais marcou o meu percurso como professora foi “A escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir” de Rubem Alves. Nele, o autor conta a história da sua visita à Escola da Ponte no ano de 2001. Descreve com encantamento o ambiente de compreensão, respeito, cooperação e solidariedade que ali encontrou. As suas palavras marcaram-me tanto, que decidi ver com os meus próprios olhos outras escolas inspiradoras ao redor do mundo. Após muitas visitas em diferentes países, percebi que a verdadeira inspiração não se deve ao edifício em si ou ao modelo pedagógico adotado, e sim, às pessoas que ali estão. Hoje, ao integrar a Teach For Portugal enquanto tutora pedagógica, acompanho mais de perto o trabalho que é feito em escolas e posso dizer que temos pessoas inspiradoras assim espalhadas por todo o país. Partilho um conjunto de boas práticas que tive a oportunidade de observar.
O caso do Agrupamento de Escolas Diogo Macedo
O Agrupamento de Escolas Diogo Macedo, em Vila Nova de Gaia, iniciou a colaboração com a Teach For Portugal no ano letivo de 2020/2021. A Professora Ana Margarida, professora de Matemática, recebeu na sua sala de aula, de coração e mente aberta, a Patrícia, Mentora da Teach For Portugal com quem colabora desde então. A função da Patrícia é garantir que nenhum aluno fica para trás e que tem todas as oportunidades para se desenvolver. Para isso, colabora com professores em sala de aula e em projetos da escola para desenvolver nos alunos competências essenciais para o seu futuro e para obter os tão desejados resultados escolares. Logo à partida, pudemos constatar o poder da colaboração entre diferentes agentes educativos e o impacto que esta pode ter no terreno quando desenvolvida ao máximo.
Em sala de aula
No primeiro ano da colaboração, as atividades em aula foram sempre planeadas em conjunto entre a professora e a mentora, e pensadas para a especificidade de cada aluno, tendo em mente o objetivo que se pretendia atingir e as competências a desenvolver, para que cada aluno se sentisse parte integrante da aula. Exemplo disso, são as aulas que começam com momentos de relaxamento: com uma leve música de fundo, os alunos de olhos fechados inspiram pensamentos positivos e expiram os medos, ansiedades e coisas menos boas. Os alunos são orientados para colocarem as mãos na barriga e sentirem a respiração. O corpo relaxa. A voz tranquila e pausada da Professora Ana Margarida guia-os neste processo, nomeando e normalizando as emoções. No fim, os alunos estão prontos para a aula. A diferença de comportamento nos alunos é notória, estão mais autorregulados e prontos para a aprendizagem.
No final de cada semana, os alunos fazem uma autoavaliação utilizando o “barómetro da aprendizagem”, afixado no quadro de cortiça. De acordo com os objetivos daquela semana, os alunos demonstram como se sentem em relação às aprendizagens, posicionando-se na cartolina de A (tenho dificuldades) a E (não tenho dificuldades). A Professora e a Mentora conseguem analisar concretamente o grau de confiança de cada um naquele conteúdo, trabalhar individualmente as dúvidas, garantindo a consolidação da aprendizagem por todos os alunos.
Estas e outras dinâmicas são agora implementadas em diferentes turmas. Os Diretores de Turma solicitam que a Professora na utilize o espaço das suas aulas para as atividades. A Mentora encorajou a Professora a partilhar as suas melhores competências. No final do ano letivo, um guião com todas as dinâmicas que as duas criaram juntas será disponibilizado para o corpo docente, para garantir que todos estes valiosos recursos e práticas de sucesso possam ser novamente utilizados por mais professores.
Projeto “Escola com Cor” vencedor do Orçamento Participativo
O Orçamento Participativo, é um projeto ao alcance de todos os alunos, e para concretizar esse sentido de possibilidade, a Professora e a Mentora incentivaram os alunos do 7ºB a participar e apoiaram em toda a logísitca. Os alunos venceram o Orçamento Participativo com o Projeto “Escola com Cor”.
Este trabalho de colaboração é tão consistente, que a Mentora Patrícia foi convidada pela Professora Ana Margarida para realizar o seu Estágio de Verão na escola – durante a interrupção letiva, todos os Mentores Teach For Portugal têm a oportunidade de realizar um estágio noutra organização para que possam conhecer outras práticas relevantes na educação, que possam informar a sua ação no terreno.
A Professora e Mentora aproveitaram a oportunidade e, em conjunto com os alunos, implementaram o Projeto vencedor. Pintaram a escola e espalharam frases inspiradoras, escritas pelos próprios alunos, nas escadas e corredores. Durante esses dias, a mentora Patrícia e a professora Ana organizaram também um “mini campo de férias” para que os alunos se pudessem divertir com outros jogos e atividades.
Assembleias Escolares
A visão do Professor Serafim, Diretor do Agrupamento de Escolas Diogo Macedo, sobre a importância das Assembleias Escolares para a promoção da educação na cidadania é muito clara. A Mentora Patrícia Galeão também pensava em trazer para a escola esta proposta no âmbito do seu projeto comunitário. As ideias alinharam-se e o Diretor desafiou a Patrícia a articular a implementação das Assembleias Escolares com os professores do Clube Europeu da escola e com a professora Ana Margarida, com quem trabalha em sala de aula. A implementação das Assembleias Escolares. Alunos do 5º ao 12º ano, Diretores de Turma e Direção envolveram-se neste desafio.
Foi através de uma pesquisa sobre Assembleias nas Escolas que descobriram o trabalho realizado pelo Professor Adelino Calado enquanto Diretor do Agrupamento de Carcavelos. O Diretor Serafim quis então promover este espaço de escuta entre o Agrupamento Diogo Macedo e o ex-Diretor de Carcavelos numa sessão online para aprenderem com a experiência de um especialista na área. Afinal, as Assembleias foram e são parte do processo de transformação do Agrupamento de Carcavelos.
O projeto já está a arrancar na Diogo Macedo como um mecanismo de auscultação da comunidade, principalmente dos alunos, como prática de partilha das medidas a implementar na escola. Os Diretores de Turma estão a trabalhar o conceito das Assembleias nas aulas e os delegados e subdelegados de turma serão os porta-vozes das necessidades identificadas e soluções propostas na primeira sessão a decorrer em fevereiro.
Turma Piloto Digital
A escola deu também início à Turma Piloto Digital, para a qual Fernanda Santos, professora de Português, convidou a Mentora a fazer parte do processo.
Como tutora pedagógica, tive a oportunidade de observar aulas nesta turma e saí com um sentimento muito grande de esperança e de ver a inovação a acontecer nas salas de aula. A sala está organizada em grupos de trabalho: os novos móveis chegaram recentemente como parte desta mudança. Mas não são os móveis, a estrutura física ou o uso da tecnologia que me chamaram a atenção. Foi todo o ambiente proporcionado pelas pessoas.
Quando cheguei para a observação da aula, a Professora e Mentora estavam na sala de aula a preparar o ambiente para a atividade. Pontualmente no horário da aula, mesmo a escola já não tendo campainha nos intervalos, os alunos foram entrando um a um, dirigiram-se aos seus lugares e estavam prontos para iniciar a aula. Como parte do projeto interdisciplinar do 7º ano, os alunos estão a pesquisar sobre diferentes países do mundo, abrangendo todos os continentes. Na disciplina de Português, após pesquisarem diferentes contos e lendas desses países, os alunos escolheram um para apresentar oralmente à turma. Além de treinarem as competências para falar em público, os alunos tinham ainda de elaborar uma breve análise textual. No quadro, estavam os critérios de avaliação e a Professora percorreu-os, explicando e exemplificando. À medida que os grupos iam apresentando, os alunos que estavam a assistir tiravam notas e preenchiam uma grelha de avaliação com os critérios definidos disponibilizada num Google Forms nos seus computadores individuais. No final da aula, foi feita uma reflexão sobre os fatores que contribuíram para o sucesso das apresentações e sobre os pontos que podem ser melhorados. Este será o mote para a próxima aula, onde após uma autoavaliação, os alunos irão receber a avaliação dos colegas e um feedback específico da Professora.
Sabemos que é fundamental que os alunos tenham consciência plena sobre o seu processo de aprendizagem, sendo capazes de perceber o que estão aprendendo, como estão aprendendo e o que podem fazer, em grupo ou individualmente, para potenciar o seu desempenho tanto no que se refere aos conceitos curriculares quanto às competências transversais não relacionadas a um conteúdo disciplinar específico. O feedback é uma forma de tornar esta aprendizagem tangível para o aluno.
A Professora Fernanda quer que os alunos tenham a oportunidade de aplicar o feedback numa nova apresentação oral e tem construído rubricas para a avaliação de progresso junto com a Mentora Patrícia.
São exemplos como esses que acontecem todos os dias nas escolas em Portugal que mostram que as práticas da escola que eu sempre sonhei, já existem. A mim, só resta agradecer a estas pessoas pela inspiração e pela oportunidade de colaborarmos para potenciar cada criança através da Educação!
Autora: Heloísa Toledo
Tutora Pedagógica Teach For Portugal
Acompanha o trabalho da Mentora TFP Patrícia Galeão no AE Diogo Macedo
Heloisa Toledo é professora de inglês, educadora e formadora de professores em metodologias ativas. A educação sempre foi uma paixão e desde muito cedo atuou como voluntária em projetos educacionais e sociais. Atualmente é tutora pedagógica na ONG Teach For Portugal, parceira da rede global Teach For All.