Teach For Portugal

Quarta-feira, primeira hora da manhã, emoção e excitação no ar – era o dia que antecedera a realização do teste de avaliação. Os alunos tinham dúvidas, questões e curiosidades sobre o “bicho-papão” da avaliação quantitativa.

Avisaram-me, numa reunião uns dias antes que o Leandro (nome fictício) era um aluno disruptivo, complexo em comportamento e com muitos desafios cognitivos. Já tinha ficado retido duas vezes na primária e, agora, ser o mais velho da turma dera-lhe algum estatuto e popularidade entre os seus pares, o que o fazia ser, em muitas ocasiões, o centro das atenções.

Tinham-me dito que a matemática não era o seu forte e que as suas intervenções eram desnecessárias. Naquele dia, estávamos a rever alguns conceitos de geometria, como simetrias, bissetrizes e mediatrizes. Procurei estabelecer uma relação com ele: perguntei-lhe o que achava de matemática, não dei tanta atenção as más notas que me contou ter e defini um novo recomeço com ele – traçamos novos objetivos.

Afinal, a geometria que estávamos a rever não necessitava de conhecimentos profundos de números, ou seja, era a oportunidade ideal para olhar para a matemática com outra perspetiva. Era a oportunidade para ele perceber que é capaz e que nada é impossível, mesmo que as letras dentro de uma expressão numérica possam parecer um dialeto estrangeiro e bastante distante.

Brinquei com o seu sentido de humor. Aconselhei-o a evitar intervenções despropositadas e promovi uma reflexão com ele sobre o impacto das suas ações nos outros. Afinal, porque mandava ele pontapés à mochila da Maria (nome fictício) que se sentava à sua frente? Não lhe dei as respostas, deixei-lhe as questões nas mãos como se de chaves se tratassem – prontas a abrir novas portas e horizontes.

Nessa aula, o Leandro assumiu que a geometria ia ser a sua melhor amiga, assumiu que ia ser o dono e o sábio deste capítulo da matemática. Fora o aluno mais participativo e, mesmo quando terminou todos os exercícios propostos, pediu mais.

No dia seguinte, o teste! O tão aguardado teste. A verdade é que, uma semana depois, quando o recebera, o Leandro estava radiante: tivera a sua melhor nota de sempre a matemática. Agradeci-lhe, mas deixei-lhe também uma questão – “Queres definir novos objetivos? A matemática dos números também pode ser engraçada e desafiante”. Ele anuiu e agora trabalhamos diariamente para alcançar melhores resultados.

Se falo nos resultados académicos? Sim, também, mas não é o principal. A melhor conquista do Leandro foi ter começado a perceber o impacto que tem no mundo – tem aprendido comigo o que é e como se deve fazer um elogio e escreveu os melhores na atividade do “Natal dos Elogios” – um amigo secreto com reforços positivos.

 

 

Quem diria que o Leandro, o maior provocador e declarado “inimigo” da Maria, substituíra agora os pontapés que lhe dera na mochila durante meses, pelos mais bonitos e sinceros elogios. Quem diria que o Leandro, no último dia de aulas do 1º Período, chegaria até mim para agradecer tudo o que lhe fiz pensar e refletir. Hoje é uma pessoa melhor que agradece, elogia, ajuda e que é capaz de se autorregular de forma mais eficaz.

 

 

 

Autor: Miguel Leão – Mentor no 1.º ano do Programa de Desenvolvimento de Liderança