“Um livro, uma caneta e um professor podem mudar o mundo.”, relembra-nos Malala Yousafzai. Sabemos que um livro é mais do que um conjunto de folhas com palavras – é um agregador da criatividade humana, da inteligência coletiva, e pode, por isso, representar imaginação, esperança, otimismo e promessas para o futuro; uma caneta, ao permitir-nos dar corpo aos nossos pensamentos e opiniões, faz com que eles possam ser partilhados e perdurem no tempo; um professor pode ser o modelo que precisamos para conhecermos o nosso potencial e acreditarmos que somos capazes de ser a nossa melhor versão. Nestes 3 elementos vemos o poder da educação e facilmente percebemos a sua importância para a construção de um país mais justo, equitativo e unido.
Hoje celebramos o dia em que a educação se tornou de todos, para todos. Celebramos a liberdade de pensamento e o espaço para a divergência – essenciais para uma educação significativa – e o início de um caminho para a verdadeira igualdade de oportunidades.
Em 1960, 32,5% dos portugueses eram analfabetos. 32,5% dos portugueses não saberia como sonhar pelas páginas de um livro nem como fazer-se ouvir através de uma folha de papel. Em 2011, eram 5,2%.* Hoje, todos os portugueses, sem exceção, têm o direito de crescer, de sonhar e de se desenvolver enquanto indivíduos e cidadãos durante 12 anos das suas vidas na escola pública portuguesa.
Hoje celebramos a liberdade, que damos já como adquirida. Somos um país democrático, onde a pluralidade de pensamentos e opiniões marcam presença dentro e fora das escolas.
Nos últimos 48 anos, fomos aprendendo que a liberdade e a cidadania são indissociáveis e que a educação pode ser o que une uma à outra, dando-nos a oportunidade de sermos e querermos cada vez mais e melhor para o nosso país. Mas sabemos que o que conseguimos nestes 48 anos não se esgota agora e que a manutenção da liberdade requer a nossa atenção para os desafios atuais: hoje, em Portugal, o principal fator de sucesso académico de uma criança ainda é a sua origem socioeconómica; a probabilidade de uma criança portuguesa inserida num contexto mais fragilizado ficar retida é 5x superior à de uma criança num contexto mais favorável; para que uma família portuguesa pobre alcance um rendimento médio podem ser precisas 5 gerações.**
Com impacto em todas as áreas da vida e da sociedade, a educação universal é uma das mais preciosas heranças do 25 de abril, cabendo a todos nós preservá-la e alimentá-la. Hoje, vivendo este privilégio e responsabilidade, abraçamos o desafio de continuar a trabalhar para que a igualdade de oportunidades sonhada neste dia de 1974 seja cada vez mais uma realidade para todos. Trabalhemos por uma educação que, agora grátis e universal, seja também a alavanca necessária para que o ponto de partida de cada um não limite o seu ponto de chegada. Afinal, não será a igualdade de oportunidades a verdadeira liberdade?
Autora: Inês Sá Couto
Alumni Teach For Portugal (2019 – 2021) e Gestora de Recrutamento e Operações da Teach For Portugal
*https://www.pordata.pt/DB/Portugal/Ambiente+de+Consulta/Tabela
**OCDE (2018); UE (2017) Portugal Monitor da Educação e Formação